“Samba de Guerrilha”, de Luca Argel
História do Brasil em três actos
Música e literatura cruzam-se nesta “ópera samba”, criada pelo artista carioca radicado no Porto. “Samba de Guerrilha”, de Luca Argel, vai subir ao palco do Festival Literário de Macau.
Segundo Luca Argel, Samba de Guerrilha foi pensado como “uma ópera samba” dividida em três actos, através da qual se conta a História do Brasil. Composto por arrojadas versões de clássicos do samba, que se revelam um “interessante instrumento de pesquisa histórica”, o disco parte da premissa de demonstrar como as velhas questões dos tempos coloniais e dos primeiros anos do Brasil enquanto nação, em especial a escravatura, continuam, ainda hoje, a condicionar a vida de milhões de pessoas, sob a forma de racismo, pobreza e todo o tipo de discriminação social.
O primeiro acto começa ao som de Samba do Operário, tema escrito pelo mítico Cartola em parceria com um português de Alfama, chamado Alfredo, que se estabeleceu no morro da Mangueira em fuga à ditadura de Salazar. As faixas são antecedidas por uma narração que contextualiza histórica e socialmente cada momento – na voz da rapper luso-angolana Telma Tvon. O contraste entre a voz que canta, de um homem branco e brasileiro, e a que conta, de uma mulher negra e africana, é “bastante simbólico”, além de resultar muito bem.
O segundo acto recorda a abolição da escravatura, mas os dois jongos (estilo musical anterior ao samba) que se seguem demonstram como tudo ficou quase igual, ou pior, levando ao êxodo para as grandes cidades, onde a marginalização continuou, como se percebe ao ouvir Direito de Sambar ou Agoniza mas Não Morre. O terceiro acto dá a conhecer João Cândido, marinheiro negro que, em 1910, liderou a Revolta da Chibata, contra os castigos físicos ainda em vigência na armada. O “almirante negro” ficaria imortalizado no samba com o mesmo nome, proibido pela censura, por a patente de almirante não poder ser associada à palavra negro. Mas sem pessoas como ele, nunca se teria escrito Uma História Diferente, samba escolhido para encerrar o disco.
Data e hora: 14 de Outubro, 20:30h
Local: Teatro Broadway
Duração do espetáculo: 1h 40m
Legendado em chinês e inglês
Os artistas
Luca Argel nasceu em 1988 no Rio de Janeiro, Brasil, e é licenciado em música pela UNIRIO e mestre em Literatura pela Universidade do Porto. Tem livros de poesia publicados no Brasil, Espanha e Portugal, um dos quais foi semi-finalista do Prémio Oceanos 2017.
Entre o trabalho como vocalista e compositor, seja em projectos colectivos ou bandas sonoras para cinema e dança, e a assinatura de programas de rádio dedicados à música brasileira, tem vindo a desenvolver a sua carreira a solo a um ritmo consistente e crescente com êxitos como “Samba de Guerrilha” e “Anos Doze”.
António Jorge Gonçalves (Lisboa, Portugal, 19 de outubro de 1964) é um autor português de banda desenhada, cartoonista, performer visual, ilustrador, cenógrafo e professor. É autor de várias Graphic Novels, e tem colaborado com vários escritores – Rui Zink, Ondjaki ou Mário de Carvalho – na criação de livros onde texto e imagem se relacionam de forma exploratória. Recebeu em 2013 o Prémio Nacional de Ilustração (Portugal) pelo livro “uma escuridão bonita” (com Ondjaki).
Fez cenografia e figurinos para várias peças de teatro. Através do método de Desenho Digital em Tempo Real e da manipulação de objectos em Transparency Overhead Projetor, tem criado espectáculos com músicos, actores e bailarinos. Escreveu e realizou o filme/espectáculo Lisboa quem és tu? para ser projetado nas paredes do Castelo de São Jorge em Lisboa.
Nádia Yracema nasceu a 3 de julho de 1988, em Luanda, Angola. Começou a aprender e a representar com o Teatro Universitário de Coimbra, concluindo a sua formação no ano letivo de 2007/2008, enquanto frequentava a licenciatura em Direito na Universidade de Coimbra. Ingressou no curso de representação da Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa em 2012.