Rota das Letras começa em força

11
Mar

Rota das Letras começa em força

 

3 First Panel March 10Com tamanha mão cheia de convidados ilustres tudo poderá ser possível nesta segunda edição do Festival Literário de Macau – Rota das Letras em que “a preocupação em consolidar o projecto se funde com a vontade em o fazer evoluir”, afirmou o Director do Festival Literário de Macau – Rota das Letras, Ricardo Pinto, na abertura oficial do evento literário e cultural que vai animar Macau até ao próximo dia 16 de Março, com debates literários, exposições de arte e concertos.

Agora com um maior envolvimento de entidades públicas, como o Instituto Cultural e a Fundação Macau, “ o festival ganha massa crítica e aventura-se em novos campos”, com a presença de autores franceses, uma competição de poesia a par com o concurso de contos, uma feira do livro, teatro, artistas plásticos em residência artística e concertoss. “Como outros antes de nós disseram, o que já fiz não me interessa: só penso no que ainda não fiz. É esse o espírito que nos anima. Sim, este festival não será como o primeiro”, disse Ricardo Pinto.

Ricardo Pinto começou por prestar homenagem e referir “a grande perda para Macau que foi o falecimento ontem (sábado) de Manuel Vicente, muito justamente tido como «O Arquitecto de Macau»”. O Director do Rota das Letras descreveu o arquitecto como “homem de uma inteligência viva e um singular sentido de humor” que ajudou “ muitas gerações a pensar Macau, fez muita gente amar Macau”.

O Vice-Presidente do Instituto Cultural e Director-Adjunto do Rota das Letras, Yao Jing Ming, agradeceu a presença aos convidados dos diversos países e realçou que Macau tem uma diversidade cultural rica, “os seus escritores vêm de países diferentes e têm origens e culturas diferentes”, então, “como podemos definir a literatura de Macau?”, questionou. Yao Jing Ming acrescentou que “existem ainda disputas e essas disputas vão continuar”, e desafiou os participantes: “talvez os nossos convidados especialistas no mundo literário possam discutir e responder”.

A representante da Fundação Macau presente na cerimónia, Zhong Yi Seabra de Mascarenhas, afirmou que “ a Fundação Macau entende que, hoje em dia, a nossa cidade está a sentir cada vez mais as influências da globalização”. Pelo que o Festival Literário de Macau – Rota das Letras, “criou não apenas um espaço de intercâmbio entre as diferentes culturas, como também criou novas oportunidades para mostrar ao exterior o que hoje se faz em Macau, nomeadamente, no mundo da literatura”.

“Colocar Macau na literatura contemporânea é a ideia basilar do Festival Literário de Macau – Rotas das Letras”, disse o Sub-Director do festival, Hélder Beja, que apresentou o primeiro livro da colecção de contos e ensaios do Festival Literário de Macau. Intitulado Não há AMOR como o primeiro, este livro de contos resultou da primeira edição do festival e é “uma síntese feliz desses momentos irrepetíveis em que Macau se reencontrou na Rota das Letras”, disse ainda Ricardo Pinto. A cerimónia de abertura foi também ocasião para a entrega do prémio a alguns dos vencedores do concurso de contos presentes na cerimónia, Susana Gonçalves, Kelvin Costa, Célia Matias e Lawrence Lei.

O primeiro painel do Festival, Influências e Perspectivas dos Escritores num Mundo Globalizado, moderado por Agnes Lam, contou com uma participação enérgica dos diversos convidados, entre os quais, o escritor de Macau Pan Lei, o brasileiro Mauro Munhoz, os chineses Bi Feiyu e Yisha, o timorense Luís Cardoso, a portuguesa Dulce Maria Cardoso e o escritor angolano José Eduardo Agualusa. A “história da humanidade é uma história de encontros e de desencontros e o importante é que esses encontros se façam em paz e no respeito pelo o outro como estamos a fazer hoje aqui com este encontro da literatura. Tenho horror profundo à ideia de culturas puras como tenho horror à ideia de fronteiras e a polícias de fronteiras, eu sonho que um dia os policias de fronteiras se transformem todos em arquitectos e construam pontes”, disse José Eduardo Agualusa. Luis Cardoso invocou o seu papel de “diplomata timorense no mundo” durante a luta de independência de Timor-Leste em relação à Indonésia e da importância da relação de Macau com Timor-Leste. “Muitos Macaenses foram desterrados para Timor durante o período colonial e muitos Macaenses que casaram com Timorenses, tiveram filhos Timorenses e muitos lutaram pela independência de Timor-Leste”, disse Luis Cardoso.

Dulce Maria Cardoso referiu sobre a globalização cultural que “esta passa pela ideia de preservar uma identidade, que não se sabe qual é, só ao longo do tempo vamos perceber qual foi a identidade de um determinado período. O que estamos a falar aqui é de uma questão política que é a abertura dos cidadãos ao resto do mundo”.

Após o debate bastante participado pelos convidados na assistência, seguiu-se a abertura oficial da Feira do Livro, na Praça da Amizade (Praça do Hotel Sintra), que constituiu uma oportunidade única para o público conhecer os autores e obter autógrafos. O dia da inauguração encerrou com o concerto ao vivo da cantora croata de jazz Ines Trickovic.

“É útil que resultem obras palpáveis do Rota das Letras”, realizador Miguel Gonçalves Mendes

O dia da inauguração começou com a estreia em Macau do filme “Nada tenho de meu – work in progresso”, de Miguel Gonçalves Mendes que, após um debate com o público, referiu ser útil que do Festival Literário de Macau – Rota das Letras, resultem projectos palpáveis como este filme que juntou três escritores, actores e realizadores daqui nascendo uma obra como a que foi apresentada. Miguel Gonçalves Mendes está já a trabalhar noutro projecto, aproveitando o regresso a Macau para recolher imagens do escritor português Valter Hugo Mãe, para um novo filme chamado “O sentido da vida”, em co-produção com o realizador brasileiro Fernando Meirelles.

“Eu amo Macau”, T (H) REE e Bernardo Devlin no concerto de pré-abertura, no sábado

A Praça da Amizade foi palco para a pré-abertura da programação do Rota das Letras, com uma pequena amostra da feira do livro e um concerto, que tiveram lugar na noite de sábado, a antecipar uma semana preenchida com diversos eventos. “Eu tenho amor por Macau” foram as palavras do músico Wilson Tsang, do projecto cultural T (H) REE, que junta músicos de Portugal e vários países asiáticos. O projecto T(H) REE, juntamente com o músico português Bernardo Devlin, subiram ao palco, animando a noite que antecedeu a inauguração oficial do evento.