ARRANCA A ROTA DAS LETRAS

31
Jan

ARRANCA A ROTA DAS LETRAS

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A Rota das Letras, o primeiro festival literário de sempre na região administrativa especial de Macau, começou este domingo com os escritores lusófonos a apelarem a uma nova relação entre os países de expressão portuguesa e a China.

“Acho que esta iniciativa de convidarem escritores lusófonos para virem a Macau tem de ter eco no Brasil. Farei questão de contribuir para que tal aconteça. Temos de trocar mais do que ferro, petróleo e soja com a China”, disse o escritor brasileiro João Paulo Cuenca, durante o primeiro painel do festival, intitulado “Países de Língua Portuguesa e China, Um Romance”.

A ideia é corroborada pelo escritor e jornalista português Rui Cardoso Martins, que defende que “a nova relação entre o Ocidente e o Oriente tem de ser baseada nas palavras”. “É bom chegar de Portugal, onde toda a gente fala apenas da crise, a Macau, onde o dinheiro parece chegar ao céu.”

O jornalista premiado e escritor de best-sellers José Rodrigues dos Santos recordou perante a audiência que o actual poder económico da China levou à entrada recente no capital da Energias de Portugal – EDP, “o primeiro negócio de relevância da China na Europa, não surpreendentemente em Portugal”, o primeiro país ocidental a criar uma relação sólida com a China, aditou.

“A língua chinesa é enorme, com muitos milhões de pessoas a falarem, mas a língua portuguesa também é enorme, porque se a nossa pátria é a nossa língua, então somos todos brasileiros, cabo-verdianos, moçambicanos e macaenses”, vincou Rodrigues dos Santos.

A cineasta moçambicana Yara Costa, que produziu recentemente um documentário sobre emigrantes chineses a viverem em África, explicou que além do investimento chinês em infra-estruturas, que é bem-vindo pelos governos africanos, existe uma grande falta de entendimento (baseada em estereótipos) entre a população local e os imigrantes. “Os moçambicanos, por exemplo, pensam que muitos dos novos imigrantes chineses são ex-reclusos à procura de uma oportunidade, enquanto os imigrantes chineses estão convencidos de que os moçambicanos têm VIH e, assim sendo, não se devem aproximar mais do que o necessário”, referiu.

A literatura pode, deste modo, acabar com preconceitos, abrir novas portas e criar elos. O vencedor do Man Asian Literary Prize em 2009, Su Tong, contou como é que a leitura do Nobel português José Saramago despertou nele uma “ligação emocional a Portugal, um país que nunca visitei e, ainda assim, de que sinto falta”.

O festival, que se prolonga durante uma semana, terminando a 4 de Fevereiro, inclui no seu programa debates, workshops, projecções de filmes, exposições de arte e concertos. Mas o debate em torno da literatura é o aspecto principal. “O objectivo do festival literário é fazer renascer o prazer e o gosto pela leitura e pela escrita, e estou seguro de que muitos em Macau vão ser inspirados por estes escritores”, disse o director do Rota da Letras, Ricardo Pinto.

O festival começou com um workshop conduzido pela escritora de Hong Kong Xu Xi. A autora apresentou também o seu mais recente romance, “Habit of a Foreign Sky,” que fez parte da lista do Man Asian Literary Prize.